domingo, 29 de agosto de 2010

Ainda dói




Ainda dói
O pescoço machucado da labuta e do sono.
O coração despedaçado.
A ausência cada vez mais presente.
A volta daquilo que insistimos para que fique ao longe.
O toque suave no rosto na hora do adeus.
A lágrima engolida para não demonstrar fraqueza.
A derrota iminente quando ainda se dá o último suspiro para vencer.
A cabeça ressacada de um porre de vinho.
As costas arranhadas pelas unhas sedentas.

Ainda dói
A mão que escreve a dor.
Os pés sobre os pedreguolhos finos da estrada.
Os olhos fixos no horizonte esperando o que nunca vai chegar,
Ou dando o último adeus.
A pele arrebentada pelo sol.
A folha trucidada pela enchente.
O telhado sob a chuva.
A lagarta no casulo virando borboleta.

E ainda dizem que a dor é pscicológica.
Ela dói sempre que sente saudades.
É solitária, carente de afeto.
Carente de som, de gemido, de urro.

Ela é amiga, companheira de todas as horas.
No frio, no calor, no sol ou na chuva.
Até a felicidade dói.
Dói de rir, dói da embriaguez do sucesso.

Ainda dói.


sábado, 28 de agosto de 2010

Desculpas e adiamento



Havia prometido a mim mesmo retornar a um assunto há muito deixado para trás: analisar um tipo de mulher, que faz qualquer um perder a cabeça - não, não são todas, é tudo fingimento dos homens, garotas. Mas dormi mal pra caralho da sexta para o sábado e estou com o pescoço semi-duro (é com hífen?). E pensar com dor é cruel. Só vim dar satisfação porque estou viciado nesse troço, ou em escrever, sei lá. Meus diletos dois milhões de leitores terão que esperar mais um pouco, RÁRÁRÁRÁ!!!!!!

PS: se alguém conhecer um remédio muito bom, por favor, me indique. Que dor chata da porra!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O pleno exercício do egoísmo




O que antes era tortura e quase obrigação – entre tantas outras que tenho, mas com um castigo bem maior se não cumprí-las – agora é prazer. Não, prazer não. Necessidade quase fisiológica. Sinto esse espaço como se fosse a casa que não tenho. O quarto que deixo do meu jeito, o gelágua na temperatura que bem entendo, que nesse caso é a aquela de congelamento mesmo. O prazer de ter um blog é quase infantil. É meu, aqui escrevo o que quero. Posso xingar tudo e todos. Mandar quem eu quiser à puta que pariu, ao raio que o parta e outros lugares menos nobres.

Aqui também posso chorar sem ser visto. Estou aprendendo a me esconder por trás das palavras. Depois de tantos anos com elas ao meu redor, consigo estabelecer uma espécie de diálogo. É isso mesmo, conversar com as palavras é bom. Elas sabem mais sobre nós do que nós mesmos. Aqui exerço meu pleno egoísmo de ser humano em alto e bom som. Tudo que vejo, sinto, avalio, agora pode vir para cá em outros termos. Sem filtro, sem censura com as letras trocadas, a sintaxe intrincada, os gerúndios abusando, repetindo, soando, castigando em todas as frases.

Aqui não tem corretor ortográfico, não tem conselho de pai e mãe. Não tem irmãos incomodando, não tem choro de criança, não tem namorada cobrando atenção. Aqui posso ser louco, santo, desmantelado, mal-educado, dar vazão à minha memória doida. E como tem coisa doida aqui dentro pedindo para sair!

Somos egopatas desde o berço. Quando queremos peito, abrimos o berreiro. E está a pobre mãe a postos. Quando sentimos dor, mais berro. E todo mundo corre, cada um querendo fazer mais que o outro para agradar a frágil criancinha. Ao crescermos vêm as regras, a sociedade, a chatice. Temos que respeitar o próximo, amar o outro como a ti mesmo. Ceder passagem, levar fechada no trânsito. Aqui, ninguém vai me fechar nem buzinar no pé do meu ouvido.

Vou exercer o pleno, irrestrito e delicioso direito de fazer o que eu quiser. Quem não aguentar que corra!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Esperando On the road




É com atraso que venho falar da versão cinematográfica de On the road, o clássico de Jack Kerouac que nosso Walter Salles começou a filmar no início deste mês. Li o livro pela primeira vez há 13 anos e sempre vi que ninguém tivera coragem de transpô-lo para o cinema. Chegaram a dizer que era impossível traduzir a prosa de Jack em outra linguagem.

Pode ser até que dê errado. Mas há de se tentar ao menos uma vez, gente! Espero um grande filme – ficaria lindo se rodado em preto e branco. Admiro a coragem de Salles e Jose Rivera (roteirista). Pelo que o próprio diretor falou do elenco, todos estão muito comprometidos. Kristen Stewart, uma atriz jovem e alçada à fama com Crepúsculo, topou o projeto há dois anos e mesmo tendo virado uma estrela nesse meio-tempo, manteve-se fiel. Bom indício.

A única coisa que senti falta, pelo menos nesse “pré-On the road” foi de Johnny Depp. Ele tem adoração quase religiosa pelo livro e merecia aparecer no filme. Há alguns anos chegou-se a cogitar que ele interpretaria Sal Paradise/Kerouac, com Brad Pitt no papel de Neal Cassady/Dean Moriarty.

Acho que os truques de maquiagem conseguiriam dar uma cara de 26 anos a Depp, que tem 47. Quando a Pitt, não tem o porte físico de Cassady.

Quanto ao fato de ser adaptação de um livro, o cinema está cheio de bons e maus exemplos. O Brasil tem um bom exemplo recente com Meu nome não é Johnny. Lá fora, o melhor que conheço é Clube da Luta. O filme tão bom quanto livro. Aliás, o autor, Chuck Palahniuk, considera o fim do filme melhor que sua obra.

Do outro lado, temos um exemplo muito ruim, com um agravante: o autor do livro também foi o roteirista. O Búfalo da Noite, excelente romance de Guillermo Arriaga, virou um filme chato, sem densidade e com personagens vazios.

Outra boa lembrança é da filmagem de um clássico: Moby Dick, de Herman Melville. Em 1956 chegou às telas sob direção de John Huston. Com Gregory Peck no papel do Capitão Ahab, o filme mostra toda raiva insana que conduziu o marujo ao enfrentamento final com a baleia cachalote.

Temos bons e maus indícios. Agora é esperar e torcer para um grande filme. On the road merece.


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Memória

Ah, memória, por que sempre me encurralando?
Sempre me maltratando, me pondo em maus lençóis, mandando os outros embora ou me mandando embora?
Fui eu que te criou assim? Te alimentei de tantas informações para tu me deixares assim?
Tão só, rancoroso, irritado, puto da vida, intolerante e sem o dom do perdão?
Foi o leite que tomei em demasia.
Deveria ter bebido mais, detonado os neurônios, batido com a cabeça. Nos sentidos real e figurado.
Mas não, memória. Te transformei num HD de capacidade infinita. E te viciaste nisso.
Quanto mais te dou, mais queres. E quanto mais queres, mais te quero dar.
Quero tudo, por mínimo que seja, por mais descartável, inútil.
Também, memória, foi por vaidade.
Quando notei teu brilho, tua sede e teu dom de ser mais memória que as outras.
Serviste para me mostrar. Dizer que eu, através de ti, era uma espécie de gênio.
Mas um dom serve tanto para a glória quanto à danação.
Se por ti lembrei de tudo, palavra por palavra. Também lembrava a palavra amarga, o gesto obsceno, a grosseria, a rejeição e a negação.
E todas elas ficavam incrustradas aqui.
E sempre vagavam em minha cabeça a um simples comando: ouvir, ver. Deve ser assim que se criam os ódios, as guerras, os homicídios.
Quanto a mim, foi apenas o homicídio de mim mesmo.
Nunca pude matar-te. Ficamos viciados um no outro. Não dava para viver sem lembrança, sem saber o que fui e no que me transformaram.
Melhor assim, pois é de lembranças que vive a humanidade. Sejam boas ou más.
Só espero agora colocá-las para fora.

domingo, 22 de agosto de 2010

O dia que nos tira da zona de conforto


Descobri o verdadeiro motivo do ódio ao domingo. Não tem nada a ver com a doentia preguiça do ser humano – principalmente nós, predominantemente católicos (isso eu explico depois). O domingo marca o fim, embora seja culturalmente lembrado como o primeiro dia da semanda. Isso é dedutível – ou deduzível – porque o posterior a ele chama-se segunda-feira.

Então deixemos de travessões e parênteses e partamos para o objetivo – olha o parêntese de novo, blog parece dar esse vício de falar consigo mesmo, ainda mais o meu que ninguém lê, hohohohohoh. Enfim, retomarei de onde parei. O domingo marca o fim do fim de semana, aqueles dois dias em que podemos fazer tudo: beber, dormir até tarde, comer besteira, ouvir música alta, ir à praia e outras tantas que não lembro no momento. Mas o fim também nos leva a um recomeço.

E esse recomeço atende pela segunda, o início da semana. E aí vem a bronca. É um desconhecido, o futuro, o vazio. Quem lá tem ideia do que vai acontecer a partir do que vem adiante. Temos futurofobia desde que pisamos neste planeta ainda como uma espécie de macacos – para uma corrente – ou Adão e Eva vagavam nus pelo paraíso – para a outra corrente.

O desconhecido é como uma espécie de Besta – nesse caso uma bestinha, vá lá. Que nos tragará para os mais profundos ciclos do inferno, nos tirará de nossa zona de conforto. E aí, meu amigo, fale em tirar alguém da zona de conforto para você ver uma fera. Entendendo-se que zona de conforto não tem nada a ver com a preguiça citada lá no topo. É o sujeito ficar onde está, se achar bem porque já montou toda a barraquinha dele daquele jeito e não admite que ninguém o mude de lugar.

É isso que a perspectiva da segunda-feira nos faz, ameaça a nossa zona de conforto. Ninguém sabe se no dia seguinte vai estar uma chuva daquelas ou um sol rachar a moleira. Se a mulher, ou marido, estará de bom humor. E o chefe? A carga de trabalho pode ser monstruosa. Medo, medo, medo. Tudo se resume a isso.

Eu mesmo tô aqui apavorado. E você?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Para gostar de ler



Oi, talvez você não me conheça. Afinal, quem tem internet nem sempre fica muito atento ao mundo real. Porque esse mundo nem sempre é limpinho, tem boas escolas, gente educada e boates cheias “bem-nascidos”. Mesmo assim, me considero bem nascido. Sabem por quê? Porque meus pais se preocuparam comigo, me deram a comida que podiam, me ensinaram e não me meter com gente ruim – que tem aos montes onde moro. Moro no Recife, uma das capitais mais violentas do Brasil. E, principalmente, porque me ensinaram a ler.

Foi lendo que descobri outro mundo. Não para fechar os olhos para o meu mundo. Mas entendê-lo melhor, buscar informações em outras fontes para que ele possa melhorar sem que ninguém precise abandoná-lo para tornar-se gente. E por não ter dinheiro para comprar livros, minha salvação são as bibliotecas comunitárias.

Elas não têm taaaaantos livros assim. Alguns velhinhos, rasgados, faltando uma ou outra página. Não importa. O problema agora não é nem livros. É onde deixá-los. As estantes estão tão velhas, que um dia uma desabou, do nada, enquanto eu lia O Mistério do Cinco Estrelas, de Marcos Rey. Pense num barulho. E foi aquela livraiada toda no chão.

Muitos dos livros que não estão em condições tão boas assim são por causa da chuva. Será que algum de vocês não teria como tapar aquelas infiltrações? O que mais tem é papel, e como todo mundo sabe, papel não combina com água. Um dia choveu tanto que um dos meus livros preferidos virou farelo: Para Gostar de Ler, uma coleção linda de crônicas de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Oto Lara Resende.

Soa até estranho, né, um garoto pobre que gosta de ler e não pede livros. Mas sem biblioteca, não tem livro, não tem menino aprendendo a ler nem desenvolvendo o gosto pela leitura. E as bibliotecas comunitárias não têm as grandes mensalidades das universidades particulares nem as verbas de governo das universidades públicas.

Por favor, não deixem nossos livros virarem farelo como aconteceu com Fernando, Paulo e Oto.

Grato pela atenção,
Um adolescente que gosta de ler.


PS: O texto acima serviu de alerta para a situação das bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana do Recife. Quem gostou, pode ajudar de várias formas: equipamentos, propostas de trabalho voluntário ou apoio financeiro. Para depositar qualquer quantia: Caixa Econômica Federal / Conta corrente número: 544-5 / Agência: 2193 / OP: 003.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

De como virei assassino


Sempre gostei de armas. Desde a mais tenra infância quando não havia tanta frescura em termos de censura e as crianças eram criadas para obedecer os adultos – fossem pais, avós, tios ou um professor. Era Chips, Esquadrão Classe A e muito Comandos em Ação. Tiros, bombas, metralhadoras e helicóplter super-equipados. Invariavelmente eram esses meus presentes: kits com arma, algemas. Possuía um verdadeiro arsenal em casa.

Das brincadeiras levei à realidade quando cresci um pouco. Comprar arma na minha cidade é a coisa mais fácil do mundo. Qualquer feira de troca a gente leva por R$ 100, 200, 500... É só escolher e pagar à vista porque nesses lugares a Polícia sempre fez vista grossa.

Aí passei a andar de cima. Não tinha medo de nada, claro. Só que o tempo foi passando e as armas foram me deixando frio, distante, como se com ela ao alcance das mãos eu pudesse brincar de Deus. E passei a matar de verdade, porque para mim não é suficiente botar uma bala no meio da carne de alguém.

Tinha que ver sangue, gostava de ver a vida se esvaindo. Era como se pudesse, literalmente, ver. É o tal de ter a vida de alguém nas mãos. Isso vicia, é pior que qualquer crack, pó ou uísque. A primeira vítima foi uma mulher. Não me perguntem porque escolhi o sexo frágil porque não vou poder responder. Medo que um homem mais forte que eu reagisse e fosse eu o defunto? Pouco provável. Sei atirar muito bem, de perto, de longe.

Ela era pequena, magra e muito, muito frágil. Era como se já estivesse meio morta, apesar dos olhos arregalados. Quase pedia para tirar-lhe a vida. Mas era a primeira, então deveria ser o crime perfeito.

O primeiro tiro foi no joelho direito. Chance de correr, zero. Apoiou-se no esquerdo, local do segundo. Caiu sentada, dizendo: “Pode levar tudo, pode levar tudo” Tudo o quê? Trocados, celular, uma bolsa? Não preciso de dinheiro, não sou ladrão. Ladrão é coisa baixa, sem classe. “Eu sou Deus e hoje chegou a sua hora”, disse a ela.

A cara foi de quem não entendeu, mas bastou mais um tiro no ombro para ela saber que eu estava falando a verdade. O quarto foi na barriga, bem em cima do estômago. Sempre mando uma nesse lugar para ver o sangue vomitado. A cada golfada saía um pecado, um erro, um amor, uma tarefa que ela deveria cumprir na próxima semana mas nunca mais iria fazer. Era cada pedaço de vida que eu via sair.

O quinto era sempre no meio do peito, onde fica o que os mortais chamam de coração. “Matei todo amor que ela sentia. Essa nunca mais vai amar ninguém. Só em outra vida, se isso existir!”

Os olhões já estavam mais arregalados do que nunca. Talvez já estivesse morta. Mas restava uma bala. Foi no meio dos olhos. Nesse lugar o sujeito morre sem qualquer reação. Aprendi lendo uma matéria sobre o Bope. E foi bem no meinho.

O sangue golfado já começava a coagular no asfalto sujo. Não havia ninguém por perto, mas dali a meia hora seria um prato cheio para os curiosos, que sempre gostam de ver um morto, desde que não sejam eles. Me escondi num terreno para ver a movimentação e quem seria o primeiro a chegar. Veio um menino e ficou olhando tão perto que parecia cheirar a menina.

“Gostou do que viu”, pensei. Ele seria o próximo.

domingo, 8 de agosto de 2010

O dia daqueles que nos fazem escolher nosso time

Imediatamente depois do post anterior lembrei-me que hoje é Dia dos Pais. Talvez devesse criar algo legal e parabenizá-los, principalmente o meu que me deu como melhor presente torcer pelo Sport. Mas reservo-me apenas a cumprimentar todos aqueles que são pais, os que os têm mas não de corpo presente neste momento, os que os têm e não o conhecem, os que tiveram que batalhar para reconhecê-lo e se verem reconhecidos, os que guardam dele algum rancor, os que os têm - ou tiveram - mas não conseguiram sê-lo, os que foram concebidos por um e tiveram a sorte de ser amados por outros.

É isso.

Ressaca, preguiça e falta de assunto

Mais de um mês sem uma linha sequer. Ressaca pós-Copa, preguiça e, principalmente falta de assunto. Até pensei em entrevistar o Povo Paul. Mas o bicho é difícil, muito pior que a Jabulani. Agora poderia escrever mais. Tô de notebook no quarto, quietinho sem ninguém para encher o saco. Mas é justamente esse dito-cujo (o saco) que me falta para colocar algo que preste aqui.

Agora mesmo estou escrevendo apoiado em um banco que balança. Tem que dar uma chave de perna, se não treme é tudo. É músculo demais sendo solicitado para escrever meia dúzia de letrinhas que ninguém - ou quase ninguém vai ler. Depois vou arrumar um vídeo ou coisa mais decente só pra não passar em branco.