sábado, 13 de novembro de 2010

TV com neurônios, que bom!

Queria falar sobre duas coisas boas que vi na televisão. Aliás, três – só computei inicialmente o que vi nessa semana. Mas são três mesmo. As Cariocas, Clandestinos e Afinal, o que querem as mulheres. Foi um prazer misturado com susto, já que as crias são da Globo, emissora que, para mim, sempre faz uma programação chapa branca, seja para entretenimento ou jornalismo. Mas eis que ela ousa. E que ousadia bem-vinda! Começou com As Cariocas. Uma tuia de atriz, dos mais variados perfis encarnam uma personalidade de um bairro da capital fluminense. Histórias sempre com um pé no humor, curtas e bem contadas.

A segunda foi os Clandestinos que só assisti essa semana. E vem novamente o texto ágil, inteligente e cheio de de referências de João e Adriana Falcão. Aliás, dupla que sempre emplaca boas novas na emissora. Pelo que vi imagino que seja um programa de orçamento baixo: poucas locações e muitos figurantes. Mas os atores, todos jovens, captaram bem o espírito meio largado que é justamente o que faz ser tão bom.

Por fim me vem o mais radical de todos no sentido da ousadia: Afinal, o que querem as mulheres? Desde a forma de apresentação do nome da série já se imagina que não vai ser nada de lugar-comum. E não foi. Um Freud, apontado como autor da frase-título aparece em boneco de massa de modelar como guru de um psicólogo às voltas com uma tese de doutorado que tem por fim responder a pergunta já citada.

Imagens meio amareladas, câmera nervosa, texto pesadão e um figurino típico intelecual-bicho-grilo-cabeçoide para rebater. Claro que gravitando em torno de um amor igualmente urgente, meio avoado mas intenso. Pra completar uma trilha sonora que só não chama menos a atenção do que ver Paola Oliveira molhada de chuva, dançando na contraluz e com as mãos sujas de tinta.




sábado, 6 de novembro de 2010

A cara dele



Coisa rara é sentir vergonha de mim mesmo. Mas isso aconteceu semana passada. Lia mais algumas cartas no volume Correspondência, de Rimbaud e transferi-me para a internet a pesquisar se havia alguma novidade, livro ou biografia dele disponível no Brasil. Eis que deparei-me com algo surpreendente: em abril deste ano foi divulgada uma foto em que o poeta aparece em frente a um hotel em Aden com mais seis pessoas.

Como é que eu, o único fã do poeta que conheço, só vim descobrir agora essa relíquia? Claro que antes tarde do que nunca. E algum chato vai sempre indagar o que eu ganharia se tivesse descoberto isso na época em que a notícia foi divulgada? Nada, claro, absolutamente nada. Mas pra quem gosta e ainda tem tão pouca informação é lamentável.

Pois vamos à foto. Ela foi encontrada por dois livreiros há dois anos e somente agora veio a público. Sinal que fizeram um estudo criterioso para atestar a veracidade. Ela foi tirada por volta de 1880, quando Rimbaud tinha 26 anos. Confesso que a primeira coisa que fiz foi procurar semelhanças com a imagem imortalizada por Carjat quando o poeta/explorador/comerciante contava com 17 anos.

O formato das orelhas e do rosto é igual, assim como o dos olhos. Mas e os maiores estudiosos sobre ele endossaram quem sou eu para negar. Matou minha curiosidade e irritação, pois as outras quatro fotos conhecidas do período africano não dão nitidez ao rosto. O melhor é que, segundo um especialista, existe uma foto dele no ano em que morreu, quando provavelmente seu corpo já estava bem debilitado pelo câncer.

Mas essa, quando aparecer, vou estar bem alerta.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Bem-vinda a tecnocracia



Depois de ter falado em eleição mais do que gostaria - e deveria - sinto-me na obrigação de escrever o ponto final, juntamente com o fim do pleito. Nunca tive dúvidas da vitória de Dilma e seu discurso durante a campanha, aliás, como o de Serra, em que votei, foi muito pouco propositivo. Mas eis que no primeiro pronunciamento após o resultado ela vem e me acende uma luz no fim do túnel. Discurso equilibrado entre emoção pelo triunfo e compromisso com o futuro. Foi algo semelhante que escrevi no twitter logo depois de ouví-la.

E nas entrevistas subsequentes ela me mostra a mesma coisa. Pelo menos como presidente(a) eleita e ainda não empossada ela já se sai melhor do que como candidata. Fato que só corroborou minha teoria: depois da ditadura militar teremos um governante técnico. De político, Dilma tem muito pouco, ainda. Como quase tudo na vida há nisso um lado bom e outro ruim. O ruim é que política tem que ser feita 24 horas por dia por um ocupante de cargo executivo, ainda mais por quem ocupa o máximo deste. Isso vale tanto para a política interna quanto a externa.

Se ela não aprender - o que eu duvido - terá que ter bons interlocutores. Vai ser preciso acalmar aliados, que são muitos, e a oposição, com certeza com a faca nos dentes para aproveitar qualquer vacilo.

Quanto ao lado bom de ter um tecnocrata no comando fica o compromisso com metas. E pelo que li sobre a presidente(a) ela gosta de cumprí-los. A meritocracia que ela falou no discurso inicial é outro ponto importante: não dá pra lotear os ministérios com quem não tem o mínimo de dom para a coisa. Imagina soltar um elefante numa loja de cristais.

Ah, e torço muito para dar certo, talvez mais do que quem a escolheu. Ela será a presidente de todos: os que nela votaram, os que não votaram, os brancos, nulos e abstêmios. E como não sou um idiota ignorante não quero que dê errado. O que for ruim pra ela será para nós também.