sábado, 26 de março de 2011

Uma década



Faz tanto tempo mas sempre esteve aqui.
Aquele dia de junho incrivelmente claro, azul e quente. Sem ar pesado, sem a chuva que afogava a cidade até dois dias antes.
Tudo conspirava a favor mas jogamos contra, nós dois.
E você me mandou embora sem pensar duas vezes. Tão covarde, que só falou tchau e se foi para quando voltasse eu não estivesse mais lá.
Ainda tive que voltar e, outra vez, na hora que você quis. Ou melhor, não quis me ver.
Como se eu carregasse em mim algum vírus.
Depois quis que eu voltasse. E eu voltei. Mas o espelho já quebrara. E por melhor que seja a cola, a imagem vai ficar sempre arranhada, distorcida.
Aí foi minha vez de descer o pano.
E a partir daí começou a minha culpa. Culpa de abandonar, de machucar, até de quase matar.
Mas e eu? Não morri um pouco também?
A culpa que me consumiu por décadas era uma pequena morte a cada dia. A cada insônia. A cada momento de silêncio.
Mas sempre chega o dia de acertas as contas. Acertei. E vi o quão grande nem sabia que era.
Não errei. Só segui o coração. E vou continuar seguindo.