segunda-feira, 5 de julho de 2010

O velho e o pássaro

Até que estava com vontade de escrever algo bonitinho ou interessante. Ou ambos, ou nenhum dos dois. Acontece que minhas mãos vêm sendo castigadas nos últimos dois meses e é melhor apelar para outros que tinham as mãos mais talentosas que as minhas para não deixar o blog parado. Recorro ao onipresente velho safado, Buk, em mais um lindo texto:

PS: o título do post é meu. Não sei o título do poema.

"há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?"

Charles Bukowski

3 comentários:

Renatinha disse...

Pássaro azul? Twitter! =)Bonito.

Guilherme Navarro disse...

Bonito mesmo.

Isabelle Sarmento disse...

Wlad, lindo texto!!! Só que pássaros azuis não merecem ficar presos... :)