quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Meu copo quebrou novamente

Ele quebrou-se. O meu copo. Como todos os copos, era de estimação. Daqueles que não carregam só água, refrigerante, sucos ou outros líquidos. Carregam nossas almas, nossos corações. Minhas lágrimas. Talvez seja esse último o item mais abundante nos seus 250 mililitros. Não era o primeiro copo, aquele que a gente guarda lá desde a infância, mas era o único. Jamais beberia em outro lugar que não fosse nele. E quando cheguei em casa, até a secretária sabia o que dizer. Pena que para ela era cômico.

- Quebrei seu copo. Sempre o teu, né?
- É – Respondi, sem a mínima vontade de rir. Sempre o meu.


O mais irônico nisso tudo é que nunca, jamais, quebrei um copo que fosse meu. Foi sempre o dos outros. Talvez seja por isso que a dor quando via os cacos era sempre maior, como se tivesse perdido alguém próximo. E não é sempre assim com os copos?

É neles que colocamos nossas bocas. As mesmas que beijam, que contam mentiras, que xingam o juiz no estádio, que cospem no prato que comeu. Que trazem para dentro de casa as bactérias das mucosas que encontramos pela vida afora. Quantos segredos, planos por virem a luz do dia, declarações de amor a serem ditas foram embora naquele “crash” Foi como se tudo isso morresse, se desintegra-se como os vermes farão um dia com nossos corpos. E agora? Será que copos reencarnam ao seu bel prazer? Ou uma cola bem feita faz ele voltar? Não sei as respostas. Os copos são arredios, misteriosos, bi, tri, tetrapolares até. E minha sede continua aqui, esturricando-me a garganta...

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