domingo, 27 de junho de 2010

Foi



De repente tudo sumiu, foi embora.
A excitação pelas explosões na tela.
O calor do corpo em meio ao insuspeitado frio.
A chuva que caía tão doce e de repente na cabeça.
A vontade, do quê, de quê, foi tão rápido que não deixou lembrança.
Só as palavras ricocheteando na cabeça até chocarem-se e transformarem-se em frases.
Soltas, que não exprimem nada: vontade, sentimento, frustração, descrição.
Só gritam no meu ouvido querendo sair.
E por isso saem desse jeito, sem jeito.
Saem tortas, mastigadas, cuspidas, expulsas.
Talvez assim a tontura passe, o peso diminua, o corpo arrebentado descanse e a cabeça que insiste em funcionar mesmo quando o resto da máquina enguiça, finalmente acalme.
Durma não só com os olhos fechados, mas também as janelas.
Porque elas têm estado sempre abertas. Pra quem ou o quê?
Se soubesse, talvez não precisasse estar aqui, pasmo, sonolento nos olhos e desperto no cérebro.
E é assim que tudo vai embora.
E fica aquele oco onde o eco não deixa desligar nada.
Eco de quê? De tudo.
Do que já foi e não permite ser escrito de trás para frente.
Do que será escrito e arrependido e jogado fora.
De quem não soube enxergar.
De quem passou incólume diante do nariz.
Da conversa que deveria ter sido e todo dia volta à tona, palavra por palavra.
Mas agora foi, passou.
E o que passa paralisa, estupefata, catatoniza.
Vira um martelar de dedos, turbilhão de ideias.
Choro sem lamento.
Arrependimento sem raiva.
Só um vento na nuca, uma luz difusa, o barulho do nada.
E foi, passou.

Um comentário:

Renatinha disse...

É, às vezes a gente deixa ir. Mas até isso passa. Belo texto! =)