terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Adaptações

Hoje vou dar um tempo no meu blá, blá, blá psicológico para meter o bedelho em algo que vem me chamando a atenção nas duas últimas semanas: as adaptações. Estou quase terminado o livro e vi o filme Meu Nome não é Johnny e, depois de muito, vi uma adaptação de livro para as telas funcionar bem. Óbvio, não está tudo ao pé-da-letra - nem poderia porque são meios diferentes. Mas, mesmo assim, o filme tem alma, assim como o livro. E essa alma não é nenhuma reencarnação vuduzada do original. É uma releitura com o mesmo foco.

Bem diferente do que tenho visto por aí. E o exemplo mais aberrante foi outro filme a aportar recentemente em nossas telonas: O amor nos tempos do cólera. Uma versão neandertalesca do sublime romance de Gabriel Garcia Márquez. Personagens caricatos, cenas sem qualquer propósito e um ridículo apelo sexual fazem do filme uma grande merda. Sabe aquelas horas em que você tem vontade de pedir o dinheiro de volta? Pois bem, foi uma delas.

Pelo que me lembre, a única outra boa "tradução" das páginas para o cinema foi Clube da Luta, de David Fincher no cinema; e Chuck Palaniuck, na literatura. O ritmo é ágil e cortante nos dois. A narrativa fantástica e o clima soturno também é mantido. Os finais são diferentes e chegou ao cúmulo do próprio escritor considerar o desfecho do filme melhor do que aquele por ele criado no papel.

Há alguns anos, mais de dez para ser exato, ouço falar que On the road, o clássico de Kerouac, e meu segundo livro preferido - o primeiro é O Encontro Marcado, de Fernando Sabino - seria transposto das páginas para a película. Francis Ford Coppola é o detentor dos direitos, mas adia ad infinitum a sua elaboração. Já falou-se que Walter Salles seria o diretor, que Johnny Deep faria Sal Paradise, etc, etc. E até agora nada.

Vai ver falta coragem para levar a cabo tal empreitada. E acho melhor deixar quieto mesmo. On the road é um monstro e deixa ele vivo em nossos corações. Além disso, a linguagem da época - não a prosa de Kerouac - soaria datada. Jazz em abundância para ouvidos encharcados de Britney Spears, Beyoncé, Avril Lavigne? Não acho que emplacaria.

Pergunte ao pó, de John Fante, que teve Colin Farrell e Salma Hayek soou superficial, justamente por pertencer a uma época em que a linguagem era diferente. Uma coisa é ler o livro e formar a história na cabeça - diferente, de cada leitor. Outra bem mais complicada seria transformar aquilo num ser único e mostrá-lo para outros que já os têm construído.

2 comentários:

Renatinha disse...

Muito bom o blablablá cultural do Sr. Wladmir! Embora mais fiel ao cinema do que à literatura (igualmente amada), concordo que adaptações são um desafio aos diretores, que se deparam com o alto (e legítimo) poder de crítica dos leitores/telespectadores. Afinal, não é só por que o cara é amante da sétima arte que vai engolir qualquer merda (como o quase trash - e eu gosto do gênero trash - O amor nos tempos do cólera). Muito disso porque, na leitura, construímos todas as circunstâncias daquele enredo que nos é ofertado pelas letras e digerido pela imaginação. Geralmente quando vamos à telona, nos decepcionamo, com a frustração provocada pela diferença (obviamente natural) do que vemos e do que havíamos construído na cachola. Por isso, prefiro ser mais tolerante com as interpretações de cada meio, embora tenha raiva mesmo na maioria das vezes em que assisto ao filme depois de ler o livro =P. Desculpa o longo comment. Rá. Pra implicar, qq dia "darei a resposta no meu blog". =) Bjos

nobody disse...

Conde wlad, tenho um livro que traz as correspondências de Lispector e Sabino. Uma relação linda e muito delicada (e até onde eu sei, só de amizade)... Numa das cartas ela fala de 'Encontro Marcado', fiquei louca pra ler o livro!
Ahhhh, quanto ao assunto principal do post: uma outra boa adaptação de livro para o cinema é '1984'. Apesar do filme ter ficado um pouco chatinho foi super fiel aos escritos.

=^*