quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Shakespeare doentio

Pois saibam, amigos, é a mais pura verdade. Lá na minha cidade, nunca se viu amor igual. Lenora e Virgínio, dizam, apaixonaram-se desde a primeira vez que se viram numa caixa de areia da praça principal. Tinham três anos. E vocês me perguntam: “Como pode duas crianças que mal falam, se apaixonarem”. Pois num é daquelas razões que a própria razão desconhece?. A história é que a alma dos dois já nasceu pronta para amar. Os outros sentimentos eram de criança normal, mas quando se viam eram como adultos. Meu pai é que contava essa história, que era compadre do pai dela, seu Leôncio. Aquele olhar meio abobado de criança ficava vidrado, tenso, sabe aquelas agonias que dão quando a gente olha no olho da mulher apaixonada? Então, era assim mesmo. Quando ficava tarde e o sereno baixava na praça não era mais hora de criança ficar por ali. Então as mães levavam os dois embora. Era uma choradeira que doía na alma. Quem ouviu garante que os dois pareciam se rasgar por dentro. Aquele choro de mãe que perde filho novo no velório.

Todo dia eles tinham que estar lá naquela caixa de areia. Quase não brincavam. Ou melhor, brincavam de um jeito diferente. Faziam tudo para se tocar, principalmente as mãos. Passavam quase toda a tarde de mãos dadas e ninguém nunca desconfiou de nada. Mas chega uma hora que a caixa de areia fica pequena, né? O parque ficou maior, as brincadeiras foram mudando mas os dois não deixavam de ficar perto. Depois da areia passaram para as bicicletas. No começo foi meio triste.

Continua...

2 comentários:

Anônimo disse...

bonitinho...
bjobjo

Renatinha disse...

Posta logo a continuação!!!!