segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Memória

Ah, memória, por que sempre me encurralando?
Sempre me maltratando, me pondo em maus lençóis, mandando os outros embora ou me mandando embora?
Fui eu que te criou assim? Te alimentei de tantas informações para tu me deixares assim?
Tão só, rancoroso, irritado, puto da vida, intolerante e sem o dom do perdão?
Foi o leite que tomei em demasia.
Deveria ter bebido mais, detonado os neurônios, batido com a cabeça. Nos sentidos real e figurado.
Mas não, memória. Te transformei num HD de capacidade infinita. E te viciaste nisso.
Quanto mais te dou, mais queres. E quanto mais queres, mais te quero dar.
Quero tudo, por mínimo que seja, por mais descartável, inútil.
Também, memória, foi por vaidade.
Quando notei teu brilho, tua sede e teu dom de ser mais memória que as outras.
Serviste para me mostrar. Dizer que eu, através de ti, era uma espécie de gênio.
Mas um dom serve tanto para a glória quanto à danação.
Se por ti lembrei de tudo, palavra por palavra. Também lembrava a palavra amarga, o gesto obsceno, a grosseria, a rejeição e a negação.
E todas elas ficavam incrustradas aqui.
E sempre vagavam em minha cabeça a um simples comando: ouvir, ver. Deve ser assim que se criam os ódios, as guerras, os homicídios.
Quanto a mim, foi apenas o homicídio de mim mesmo.
Nunca pude matar-te. Ficamos viciados um no outro. Não dava para viver sem lembrança, sem saber o que fui e no que me transformaram.
Melhor assim, pois é de lembranças que vive a humanidade. Sejam boas ou más.
Só espero agora colocá-las para fora.

2 comentários:

Anônimo disse...

É a culpa é sua!
E eu, ainda bem que eu quase n tenho mémoria rs!

Renatinha disse...

Memória importa, mas maltrata. Bjo!