quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Para gostar de ler



Oi, talvez você não me conheça. Afinal, quem tem internet nem sempre fica muito atento ao mundo real. Porque esse mundo nem sempre é limpinho, tem boas escolas, gente educada e boates cheias “bem-nascidos”. Mesmo assim, me considero bem nascido. Sabem por quê? Porque meus pais se preocuparam comigo, me deram a comida que podiam, me ensinaram e não me meter com gente ruim – que tem aos montes onde moro. Moro no Recife, uma das capitais mais violentas do Brasil. E, principalmente, porque me ensinaram a ler.

Foi lendo que descobri outro mundo. Não para fechar os olhos para o meu mundo. Mas entendê-lo melhor, buscar informações em outras fontes para que ele possa melhorar sem que ninguém precise abandoná-lo para tornar-se gente. E por não ter dinheiro para comprar livros, minha salvação são as bibliotecas comunitárias.

Elas não têm taaaaantos livros assim. Alguns velhinhos, rasgados, faltando uma ou outra página. Não importa. O problema agora não é nem livros. É onde deixá-los. As estantes estão tão velhas, que um dia uma desabou, do nada, enquanto eu lia O Mistério do Cinco Estrelas, de Marcos Rey. Pense num barulho. E foi aquela livraiada toda no chão.

Muitos dos livros que não estão em condições tão boas assim são por causa da chuva. Será que algum de vocês não teria como tapar aquelas infiltrações? O que mais tem é papel, e como todo mundo sabe, papel não combina com água. Um dia choveu tanto que um dos meus livros preferidos virou farelo: Para Gostar de Ler, uma coleção linda de crônicas de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Oto Lara Resende.

Soa até estranho, né, um garoto pobre que gosta de ler e não pede livros. Mas sem biblioteca, não tem livro, não tem menino aprendendo a ler nem desenvolvendo o gosto pela leitura. E as bibliotecas comunitárias não têm as grandes mensalidades das universidades particulares nem as verbas de governo das universidades públicas.

Por favor, não deixem nossos livros virarem farelo como aconteceu com Fernando, Paulo e Oto.

Grato pela atenção,
Um adolescente que gosta de ler.


PS: O texto acima serviu de alerta para a situação das bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana do Recife. Quem gostou, pode ajudar de várias formas: equipamentos, propostas de trabalho voluntário ou apoio financeiro. Para depositar qualquer quantia: Caixa Econômica Federal / Conta corrente número: 544-5 / Agência: 2193 / OP: 003.

Um comentário:

Luna Freire disse...

Valeu, Wladmir. Nós, da Biblioteca Popular do Coque, e todo os que fazem a Rede de Bibliotecas Comunitárias, agradecemos a cada um destes novos parceiros.