segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Complicadamente descomplicado (parte V)




O tempo passou e ninguém falava com ninguém. Nem recados em orkut, facebook ou emails. Viam-se aparecer no msn, mas nada. Cada um ao seu estilo, matutava em cima daquele gelo. O curioso é que o mesmo pensamento torto corroía a cabeça das duas criaturas. “Acabou. Mas acabou o quê?”, pensavam. Não era namoro, casamento, rolo, muito menos caso, já que ambos não eram comprometidos. Esse não sei o quê é que parecia deixar tudo mais nebuloso. Lá no fundo, tinham vontade de se falar, não que o desejo já voltasse a bafejá-los. Era apenas a vontade de ouvir a voz, trocar ideias, algo tão maior e bem melhor que sempre tiveram e agora deixavam ruir.

Rebeca ruminava ao seu estilo enfezado, cáustico, sem papas na língua, embora falasse para todos menos ele, o único que merecia ouvir. “Filho da puta, imbecil. Sempre se faz de inocente e vítima. E o que é pior: eu termino sempre embarcando na onda e me fudendo. Sempre cedo e ele sempre faz as mesmas coisas. O que deveria ter feito é cortado o mal pela raiz, mas não, sempre acho que todo mundo vai mudar, acredito nas boas intenções e quebro a cara sempre, sempre. E por que tudo tem que ser sempre tão escorregadio? Custa alguma coisa ser sincero? Será que vai arrancar pedaço? O pior é que todo mundo me avisa quando entro nessas roubadas, de olhar pra homem inteligente e esquecer do resto. Tem que estar sempre testando, sempre levando ao limite. Ou simplesmente usar, descascar como qualquer fruta que se pega em feira, chupar tudo e deixar o bagaço pra outra idiota. Mas eu não consigo, não sai, sou amarrada em meu próprio novelo, não deixo que ninguém pegue a ponta e faça a própria teia. Será pudor, uma ética burra? Não sei de onde vem. Já sei! Vou ligar pra gente conversar de uma vez por todas e seja o que tiver de ser. Tenho que falar, desse jeito vou explodir. Até falta de ar já começo a sentir. Quando ele atender, vou dizer o quê: 'Olha, vem aqui em casa que a gente precisa conversar sobre nós'. Pronto, aí ele vai dizer: 'Nós o quê?' Aí eu digo que é nossa, nossa... Porra, nosso negócio, troço, pois nem nome isso tem! Bem capaz de dizer que não existe nós, esse merdinha. Ou melhor, nós, sim: eu, ele e outra dúzia. Queria tanto saber com quem ele anda só pra entregar tudo que ele faz comigo. Mas e se ele fizer o mesmo com as outras? E o pior, se elas gostarem... Fico como a maluca inocentinha que corre atrás dele e faz contar vantagem para os amigos, inclusive essas amigas. Ele não deve respeitar ninguém mesmo. E quando conheci parecia tão tímido, tão na dele que chamava mais atenção que os exibidos. Se brincar, sempre soube tudo isso calculadamente e fez de propósito. Agora, com quantas não deve repetir a mesma tática? É, esse tipinho não adianta fazer fofoca, é até pior porque homem gosta de ser falado, gosta de achar que toda mulher vai correr atrás dele. E quem fala só aumenta a auto-propaganda. Ele vai dizer: 'Tá vendo: não tive nada com ela e já fica desse jeito' Quem ouve, além de me chamar de doida vai pensar que ele tem mel no pinto. Acho que só pode ser frustração. Teve algum problema de infância como pai ausente ou mãe superprotetora ou foi criado por vó. Tinha tudo o que queria na mão e não dava valor, quebrava de propósito pra ver o que tinha dentro. Na idade adulta muda só brinquedo, é de carne e osso, fala, pensa, chora, ri e abre as pernas pra ele ver o que tem dentro. Depois que viu, desmontou e botou as peças jogadas no fundo de um baú sai chorando atrás de um novo, com peças diferentes. Uma hora vai ver que não tem brinquedo nenhum, apenas um quebra-cabeças: um sentimento ali, uma gozada aqui, uma chupada e mais nada que guarde, que conquiste pra sempre e que nunca lhe vá ser tirado. Acho que é por isso que dizem da imaturidade do homem. No fundo, no fundo eles passam a vida inteira brincando mesmo. Uns brincam com carros, outros de banco imobliário, comprando e vendendo e outros com as pessoas, principalmente mulheres. Ah, que se foda, vou ligar e é isso mesmo que ele vai ouvir”.

Do outro lado da cidade, imerso em suas próprias teorias estava Walter. Trancado em seu próprio refúgio. Deitado, com a luz do quarto acesa, olhava para o teto como se por um milagre fosse aparecer um manual que lhe daria a chave para resolver o problema. Não se sentia culpado. Na sua cabeça era algo que já experimentara, apenas uma briga banal que mais cedo ou mais tarde se resolveria ao primeiro olá que trocassem. Porém, seu perfeccionismo era mais forte. Não se sentia cem por cento à vontade quando algo se mostrava pendente, fosse algo guardado num lugar que não lhe era destinado ou a falta de uma palavra para chegar ao ponto final de uma questão. Queria falar para resolver tudo. “Mas que problema? Será que existe problema? Por que perco tanto tempo pensando nisso? Ah, não sou o único. Ela reclama que não falo como se fosse um poço de transparência. Eu sei lá com quem anda? E nunca, nunca fiz questão de saber. Ela deixa tudo sempre nas entrelinhas pra que eu fique imaginando. Essa tática de mulher é mais velha que a roda. Ela tenta com isso me segurar, me manter por perto e forçar encontros como se eu precisasse vê-la frequentemente para me sentir revigorado. Quando na verdade, quem precisa disso é ela, que mesmo com tanto macho atrás insiste em mim. Pois se quiser vai ter que ser sempre asssim. A merda é que sempre perco o controle quando chego perto. É um cheiro, um olhar, o sorriso, sempre me derrubam. Ela sempre joga as coisas no sexo como se sexo fosse uma equação universal que se apresentasse eficaz pra qualquer tipo de problema. É porra nenhuma. Às vezes atrapalha bem mais do que ajuda. Mas sempre vem tudo misturado. É intenso mas não é amor. É intenso mas não é sexo. Será que por exclusão já não é tão intenso assim? O que quero dela? Não sei. Não sei nem se é de uma companheira que preciso. Sinto falta de alguma coisa, não sei o que é e ninguém preenche. Não é dinheiro, não é poder. Talvez seja eu mesmo. Será que tô me buscando nessas mulheres? Mas por que só com uma é tão complexo se as outras são do mesmo nível intelectural, social e tudo mais. Talvez ela busque outras coisas mas não fala! E depois reclama de mim. Eu sou sempre o réu, tá bom dela olhar um pouquinho pro próprio umbigo. Acho que é isso que ela tá precisando. É, a típica mulher complexa caricaturada em tudo quanto é blog machista. Acho engraçado na hora de ler mas agora tô vendo que é bem diferente de lidar. Ela se acha a inteligente, a dona da verdade, a que estuda profundamente os sentimentos alheios. Pode até entender dos outros, mas de si mesma tá bem longe. E vai ser isso mesmo que eu vou falar na próxima vez, seja por msn, email ou telefone”

O telefone tocou.

Um comentário:

Anônimo disse...

É nada, Walter!
Sua estória é sempre assim, seja com Rebeca, Renata, Tatiana, Marina, Ana, Adriana e etc!
Vc é sempre o msm.

Continue escrevendo assim, confesso q n li todas, mas...vc vai longe. Um dia eu volto e termino, deu p rir um bocado!

Bjobjo