terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ficou escuro aqui. E nem fechei os olhos. Não é pela miopia. Nem pelas pupilas dilatadas. É por não mais ter teus olhos. Esses dois grandes, imenos olhos. Que falam, choram, riem, amam, odeiam e gritam. Teus olhos falam tanto que chega a se esqucer que tens boca. Ah, se os meus também fossem assim, falantes. Eu não precisaria gastar as palavras, inventadas com tanto esforço de outros. E eu apenas as desperdiço. Jogo ao léu como quem cospe sementes. E é justamente nas sementes que brota uma nova vida, assim como nas palavras. Talvez não me foi dado o dom de entendê-las. A cada uso é só desconforto, desilusão, desconstrução, desvirtuação. Nunca deslumbramento. E por que insisto em palvrear meu mundo? Mas é só o que me resta, criei meu dialeto particular. É no meu ajuntamento, às vezes pobre, às vezes burro, às vezes feio mas sempre confuso, que procuro o significado. Quero reduzir a palavra até que ela não signfique nada. Que se mude a linguagem, que ela seja através do pensamento e das expressões. Comunicação e expressão, não era assim que aprendíamos no primário? Se ambas andam juntas, esqueçamos as palavras. Guardemo-nas nos mais escuros recônditos de nossos espíritos. Não as deixemos mais sair de casa. Não mais vamos tirá-las dos grilhões. A palavra semeia o mal que existe em nós. Se as deixarmos de lado, nos concentraremos mais no outro, na cara, nos olhos, nas mãos nos pés. Que o corpo aprenda a falar para nos alfabetizarmos de maneira mais livre. Experimentemos o silêncio.

Um comentário:

Renatinha disse...

"Pensar letras, sentir palavras. A alma cheia de dedos". Alice Ruiz